quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Madre Teresa e o relato dos profissionais que participaram no processo para sua canonização

A Tribuna entrevistou os profissionais que participaram do processo de canonização de Madre Teresa.

Dos três médicos peritos que participaram do processo de canonização, dois moram em Santos. Um deles é Monica Mazzurana, de 39 anos, especialista em cirurgia bariátrica. O outro profissional é o neurologista Marcus Vinicius Serra, de 39, nascido em Santos, que mantêm uma clínica na Cidade, coordena a Casa de Saúde e o Hospital Frei Galvão e trabalha nos hospitais Sirio Libanês e Santa Paula, em São Paulo.

“Caso não teria solução cirúrgica”
A cirurgiã bariátrica não podia imaginar que, depois daquela surpresa, estaria hoje entre os três médicos brasileiros atuantes no processo de canonização.
“Tudo começou quando recebi uma ligação perguntando se eu tinha disponibilidade de trabalhar por três, quatro dias inteiros, para o Vaticano”, diz Monica Mazzurana Benetti, de 39 anos. A cirurgiã bariátrica dos hospitais Guilherme Álvaro e Beneficência Portuguesa não podia imaginar que, depois daquela surpresa, estaria hoje entre os três médicos brasileiros atuantes no processo de canonização de Madre Teresa de Calcutá. 
Nascida em Gramado (RS), mas em Santos há 15 anos, ela teve menos de uma semana para se esquecer de fé, devoção e religião para se voltar somente à análise científica dos fatos.
“Minha função como perita era avaliar o exame físico atual, ver se tinha alguma sequela e só encontrei nele uma leve alteração na marcha ao caminhar na ponta dos pés e um desvio de olhar. No mais, ele está absolutamente normal. Teve dois filhos depois disso e vive normalmente”, conta ela.
Antes disso, ela revisou todo o prontuário do paciente e teve acesso a todas as tomografias. Era entre 18 e 23 de junho, numa sala da casa do bispo diocesano, dom Tarcísio Scaramussa, na Ponta da Praia – palco de todo o processo que teve 14 testemunhas ouvidas e sabatinadas, primeiro separadamente e, depois, juntas. 
“Sozinha no quarto, quando peguei as tomografias com as evidências que num dia tinha hidrocefalia e no outro, nada, naquela hora me ajoelhei e entendi que o milagre estava acontecendo. Realmente, é inacreditável. Não teria como ser resolvido se não fosse cirurgicamente”, chora. 
Segundo a médica, um religioso oriundo de Roma e que participou do processo chamou muito a atenção de todos, para lembrar que os médicos estavam ali como cientistas, e não, como católicos. “Na verdade, não fomos nós que decidimos que era ou não milagre. Simplesmente respondíamos à pergunta: ‘Há como comprovar a melhora cientificamente?’. E minha resposta foi não”. 
“Todo mundo envolvido tem um motivo para estar ali. Não sei o meu, mas não tenho dúvida disso. Acho que fomos instrumentos de Deus para mostrar o exemplo de Madre Teresa e tentar transformar este mundo tão materialista num lugar mais humano”, diz. 

"Nunca fui tão sabatinado "
Foram quatro dias de estudo, análise de exames e perguntas a testemunhas para a pior sabatina da vida do neurologista santista Marcus Vinicius Serra, de 39 anos, que coordena a área nos hospitais santistas Casa de Saúde e Frei Galvão. 
Ele teria de decidir se o caso de cura em 24 horas de um quadro gravíssimo era explicável cientificamente. O peso da resposta contribuiria ou não para que um milagre fosse atribuído a Madre Teresa. 
Pai de dois filhos, o médico não pôde contar à família o que estava acontecendo. Recebeu o convite para participar, chorou, e ninguém entendeu. 
Após juramentos inclusive com as mãos sobre a Bíblia, ninguém poderia saber que o processo estaria ocorrendo até que o Papa o autorizasse. 
Por ser casado e com a mulher grávida na época da convocação, Serra era o único que podia voltar para casa à noite. “Eu só dizia a ela que estava em um retiro, trabalhando. Precisei esconder (o que fazia) e disse que um dia ela iria se orgulhar”, conta o médico.
Seu único medo era o de que imprensa e outras pessoas achassem que ele poderia usar o caso para se promover. “Se eu pudesse, não iria falar. E confesso que fiquei com medo de a Igreja pedir para eu dizer que foi mesmo um milagre. Mas quatro dias depois (do convite à participação), chegou uma comitiva do Vaticano com dois monsenhores. Nunca fui tão sabatinado na minha vida. E isso me deixou feliz. Senti que eles queriam que fosse sério”. 
Após negar que a melhora pudesse se explicar cientificamente, o neurologista soube que outros profissionais do ramo no Rio de Janeiro, nos Estados Unidos e na Itália também avaliariam os exames. 
“Fiz um relatório final e coloquei o que consegui explicar. Entreguei a via num pen drive e, como pedido, a deletei do meu computador. No total, toda a documentação ficou com 400 páginas: uma foi para o Vaticano, outra está em Santos e uma fica lacrada, não sei onde”.
Para ele, o melhor jeito de resumir o que sente é acreditar que todos têm uma missão. “Uma dessas missões minhas, descobri, é levar o nome de Madre Teresa ao mundo. Estou anestesiado. Não sei o que dizer”, resume o médico, emocionado.


fonte:atribuna.com.br

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